Alguns episódios do arranque do Bibliodomus da Biblioteca Municipal do Seixal. |
terça-feira, junho 27, 2006 |
"Laurinda gostava de «ler qualquer coisa do António Lobo Antunes» e Vera Silva, chefe de Divisão da Biblioteca Municipal do Seixal, escolheu o «Terceiro livro de crónicas» do autor português para emprestar à idosa de 77 anos. Sem ter tido a hipótese de estudar e com um filho deficiente a cargo, Laurinda Pereira gosta de «leitura realista e expressiva». Em 15 dias leu o primeiro volume de «O tempo e o vento», de Eurico Veríssimo, e enquanto recebe novos livros e filmes para ver, vai comentando a experiência de ter funcionários da biblioteca em casa. «Eu não tenho tempo para ir à biblioteca requisitar. Tenho o Vítor para tratar, a casa e um neto que vive comigo», conta. O projecto-piloto da Bibliodomus arrancou ontem e abrange 12 utentes com dificuldades de mobilidade indicados pelo Gabinete de Acção Social da Câmara do Seixal, em parceria com as associações de reformados e instituições da área da deficiência. Ontem, a casa de Laurinda Pereira, em Belverde, encheu-se de técnicos e jornalistas. «Quer continuar com o fado?», pergunta Vera Silva, segurando na mão dois CD. «Sim, gosto de ouvir música baixinho e ler. Saboreio melhor», confessa. A viagem prossegue até Foros de Amora, onde vivem Mário, 85 anos, e Floripes Silva, 83 anos. As leituras não correram bem, até porque os olhos cansados não ajudam a focar as letras. «Mas houve uma cassete que gostei bastante. 'A Rosa do Adro'. Adorei!», garante Mário, contanto, com visível ironia, que a primeira vez que entrou numa escola foi aos 45 anos para fazer o exame da 4ª classe. «Olhe Sr. Mário, trouxe-lhe o Zé do Telhado», diz Vera Silva, deixando o idoso satisfeito. A chefe de Divisão da Biblioteca anota as preferências do casal e revela que em breve haverá voluntários para ler os livros em voz alta a quem tem dificuldades de visão. Entretanto, escreve na ficha que Mário Silva prefere filmes mudos, mas fáceis de entender. Apesar da idade e da cadeira de rodas, Floripes segura um livro de Aquilino Ribeiro e esforça-se para ler. Sentado no terraço, o casal despede-se do grupo e promete ver todos os filmes. Dentro de 15 dias uma equipa municipal vai levantar os empréstimos e entregar outros. «Esta iniciativa pretende combater a exclusão social. Nestas visitas, as pessoas falam connosco sobre a sua vida», contam Isabel Alves e Ana Cecília Lopes, da Acção Social." Ana Rute Silva
Fonte do texto e foto: Jornal de Notícias - 27-06-006 |
Link do post - publicado por fernando_vilarinho @ 10:21:00 |
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